domingo, 27 de setembro de 2009

Convento Corpus Christi ( Vila Nova de Gaia)

Foto de Manuel Carreiro

Construída no século XIV (1345), a igreja do convento de Corpus Christi de Gaia, de religiosas dominicanas, conheceu uma degradação gradual provocada pelas constantes cheias do rio Douro, o que originou a edificação de um novo templo, desenhado pelo Padre Pantaleão da Rocha de Magalhães, na segunda metade do século XVII . Este arquitecto foi responsável por várias obras no Porto e arredores, a primeira das quais o Corpus Christi.
A nova igreja das dominicanas de Gaia, de planta centralizada octogonal (com capela-mor rectangular e profunda, e dois coros sobrepostos, do lado oposto), repete o modelo do templo lisboeta do convento do Bom Sucesso de Belém, concluído em 1670 e pertencente à mesma ordem. Esta opção planimétrica integra Corpus Christi no conjunto de igrejas de planta centralizada que tomaram um modelo "quase" abandonado desde a primeira metade do século XV e que conheceu grande fortuna a partir de 1640, principalmente nas obras directamente relacionadas com o círculo da Rainha D. Luísa de Gusmão. No interior, destaque para o cadeiral do coro em talha, que remonta à segunda metade de Seiscentos, onde sobressai a expressividade de determinadas máscaras e animais. A pintura e a imaginária que decoram a igreja (tecto do coro alto, espaldar do cadeiral e retábulos), apresentam uma iconografia que se enquadra nas temáticas da Ordem. O tecto é dividido por 49 caixões que referem santos, sendo que 15 painéis centrais são alusivos à vida de Jesus.

Há mais de três décadas que o Convento Corpus Christi estava degradado. No entanto, em 2003, a Autarquia, liderada por Luís Filipe Menezes, consegue adquirir o edifício, procedendo de imediato a obras de requalificação com um custo total na ordem dos 775 mil euros (498.512,50 euros de comparticipação comunitária). A intervenção que incidiu, sobretudo, na recuperação do telhado, tecto e coro alto da capela do convento Corpus Christi, deixou a olho nu um número vasto de peças de arte sacra de valor singular - como uma escultura de um cristo crucificado, datado do século XIV - e um espaço "intimista" que a partir de agora não será mais utilizado para o culto, mas antes para acontecerem exposições e colóquios ou simples visitas guiadas. Uma nova vida começa no espaço cultural que receberá, no Verão de 2010, espólio da Ordem de Malta. Destaque ainda para a existência de uma antiquíssima estátua de S. Domingos e uma fonte seiscentista.

Localização e horários:

Situado na margem esquerda do rio Douro, junto ao Cais de Vila Nova de Gaia, no Largo de Aljubarrota, nº 13.

Terça a Domingo: 10h00-18h00
Encerra ao público: segunda-feira e feriados nacionais de 1 de Janeiro, 1 de Maio e 25 de Dezembro.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Palhota (Cartaxo)



No início do século XX e até aos anos 1960, vários pescadores de Vieira de Leiria e de Aveiro - que protagonizaram o último grande movimento migratório em Portugal - desceram até às margens dos rios Tejo e Sado, na tentativa de encontrar melhores condições de pesca e mais oportunidades. Os avieiros, rejeitados inicialmente pela população local que lhes chamava "ciganos do rio", viviam nos seus próprios barcos, até que, à medida que se iam integrando, começaram a construir pequenas habitações.
As casas típicas dos avieiros eram construídas em madeira e palafita, um material que impede as construções de serem arrastadas pelas correntes do rio. As estacas que já usavam nas dunas junto ao mar e que impediam que a areia lhes entrasse em casa, eram agora a salvação contra as cheias do Tejo, que nessa época era um «jardim de peixe». Estas casas têm todas o mesmo tipo de construção e a mesma organização interior: o primeiro andar tem a sala à entrada e dois quartos ao lado. A cozinha fica em baixo ou em frente, do outro lado da rua.

Nesta aldeia chegou a viver Alves Redol, um grande escritor português que muito escreveu acerca do Tejo e das suas gentes. A aldeia está quase deserta e muitas das casas típicas que ainda sobram estão em mau estado e a precisar de obras de conservação. A Palhota é uma das 14 comunidades avieiras, existentes entre a Chamusca e Grândola, onde se fixaram populações piscatórias.

Imperdível é mesmo o espectáculo do pôr do Sol à beira-Tejo, com os barcos pintados de cores garridas encalhados no areal e as cegonhas, garças e outras aves a regressar em bandos aos respectivos abrigos.

O acesso pode fazer-se a partir das estações ferroviárias da Azambuja ou do vale de Santarém.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Mosteiro Santo António do Varatojo (Torres Vedras)



O Mosteiro de Santo António do Varatojo foi fundado por D. Afonso V em 1470, como cumprimento de uma promessa que o monarca havia feito a Santo António, pedindo auxílio para as campanhas do Norte de África.
Em meados do século XVI, devido possivelmente aos estragos que o terramoto de 1531 havia provocado na estrutura monacal, D. João III mandou refazer e aumentar o espaço dos dormitórios, na mesma época em que foi edificada a enfermaria, bem como a capela-mor do templo, edificada a expensas da rainha D. Catarina
No ano de 1680 instalou-se no Varatojo o Colégio de Missionários Apostólicos, e cerca de 1739 foi acrescentado à zona dos dormitórios um novo piso, para albergar o noviciado do colégio. No entanto, com a extinção das Ordens Religiosas em 1834, a comunidade de franciscanos do mosteiro foi dispersa, e alguns anos mais tarde, em 1845, o edifício monacal foi vendido em hasta pública ao Barão da Torre de Moncorvo. O espaço acabou por voltar para a posse dos frades franciscanos, que compraram o mosteiro ao herdeiro do barão em 1861.
Os religiosos do Varatojo voltaram a perder o mosteiro depois da implantação da República, sendo forçados a abandonar o espaço ainda no ano de 1910. O mosteiro era então transformado em asilo de idosos. A comunidade franciscana só voltou a ocupar o cenóbio em 1928, no ano em que o Governo português entregou o espaço às Missões Franciscanas Portuguesas, mantendo-se na sua posse até hoje.
O espaço do mosteiro apresenta uma estrutura eclética que conseguiu integrar vários modelos diferentes relativos às diversas épocas construtivas, nomeadamente um portal gótico gravado com baixos relevos, e o claustro quatrocentista, o tecto mudéjar da portaria e vários portais manuelinos no espaço claustral, o templo maneirista, vários painéis de azulejo, tanto de gosto maneirista como azulejos de padrão e figurativos de gosto barroco, altares de talha de estilo nacional e uma tela da autoria de Bacarelli, colocada na capela-mor.

Implantando numa encosta, destaca-se o pequeno espaço da cerca conventual, pelo valor botânico da sua frondosa mata. Este convento tem a curiosidade de ainda albergar uma comunidade monástica que produz e vende plantas e remédios naturais. Também vale a pena reparar na gigantesca trepadeira que abraça a quase totalidade do claustro.

domingo, 13 de setembro de 2009

Calçada de Alpajares (Freixo de Espada-à-Cinta)



Classificada em 1977 como "Imóvel de Interesse Público", a "Calçada de Alpajares", ou "Calçada dos Mouros", como será mais conhecida localmente, integrava a via romana de carácter secundário que atravessava o rio Douro (nas imediações da localidade de Barca de Alva) e a ribeira do Mosteiro, até chegar ao planalto mirandês. Actualmente, remanescem apenas alguns dos seus troços originais, visíveis perto da convergência das ribeiras da Brita e do Mosteiro, a partir da qual se prolonga pela encosta de Alpajares de forma ziguezagueante, até chegar ao muralhado do povoado de São Paulo, edificado na Idade do Ferro no cimo de um espigão sobranceiro àquelas mesmas ribeiras, com testemunhos ocupacionais dos períodos romano e medieval. E terá sido, na verdade, a excelente implantação estratégica deste Castro que subjazeu à sua eleição por parte do poder romano, que assim fez confluir para a sua fortificação a calçada, tão necessária a uma célere movimentação dos seus diversos elementos constituintes.
Estruturada ao longo de cerca de oitocentos metros em lajes afeiçoadas em xisto e seixos de pequena dimensão, a calçada possui degraus intercalados com certa regularidade, entre três a quatro metros, apresentando-se, ainda, reforçada com uma parede lateral na zona em que o declive da encosta se revela mais acentuado, designadamente nas curvas do traçado da via, que, tal como sucedeu com o Castro (vide supra), acabaria por ser reutilizado ao longo dos tempos, a atestar, no fundo, a pertinência da sua localização e a relativa abundância de recursos naturais imprescindíveis à normal subsistência das comunidades humanas de modo, mais ou menos, ininterrupto.

Diz a lenda que "em tempos antigos era tudo por este sítios barrancos e precipícios medonhos, um cavaleiro vindo dos lados de Barca d'Alva em noite de tempestade, chegou à margem da Ribeira do Mosteiro que ia de mar a monte. Dada a necessidade impiedosa de atravessar o bravo curso de água, pois tinha a sua amada à espera, suspirou aflito: Valha-me Deus ou o Diabo. Foi Satanás que apareceu ao chamamento e disse: Se me deres a tua alma, antes que o galo preto cante, te darei uma ponte e uma estrada para que possas seguir a tua cavalgada sem perigo. O Cavaleiro aceitou e o infernal pedreiro e seus acólitos atarefaram-se na arrojada construção de uma calçada entre os fraguedos, distribuindo 18 elegantes lancetes em gogos da ribeira, ao som estridentes cantares de Bruxas que no terreiro se reuniram para festejar a conquista de mais uma alma. Eis que canta o galo três vezes quando apenas faltava colocar as duas últimas pedras da ponte. O cavaleiro liberto do seu compromisso prosseguido a sua viagem e o Diabo enraivecido, desapareceu com os seus acólitos através de uma bocarra que se abriu entre os penhascos".

Percurso Ribeira do Mosteiro – Calçada de Alpajares
Freguesia de Poiares (Freixo de Espada-à-Cinta)
Extensão aproximada: 7 Km
Duração aproximada: 5 h
Grau de dificuldade: Médio (max: 18º)
Tipo de itinerário: Circular
Ponto de partida / chegada: Foz da Ribeira do Mosteiro.
Apoios: percurso sinalizado com marcas, presença de placards interpretativos
Pontos de interesse: Património geológico (dobras, camadas verticais e falhas nos quartzitos), património arqueológico (Calçada de Alpajares e castros de São Paulito e de Alva), fauna e flora rupícolas, moinhos de água abandonados, pombais, parcelas agrícolas mediterrâneas (amendoais, laranjais e olivais), casario tradicional em Poiares, estação ferroviária de Barca de Alva.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Mosteiro de Tibães (Braga)




O Mosteiro de S. Martinho de Tibães , situado em Mire de Tibães, reabriu na sua totalidade quarta-feira passada, depois de uma operação de restauro, recuperação e reabilitação no valor de três milhões de euros. Classificada como imóvel de interesse público, a antiga casa-mãe da Congregação Beneditina em Portugal foi objecto de uma intervenção, que decorreu entre Setembro de 2006 e Dezembro de 2008.

A intervenção abrangeu o antigo claustro do refeitório, que foi destruído por um grande incêndio no final do século XIX. Foram ainda recuperados o noviciado, o hospício e a parte da ala Sul onde se encontram a livraria, a cozinha e alguns espaços anexos. A recuperação e restauro dos espaços permitem a sua integração no circuito de visitas do mosteiro, onde será instalado um centro de informação de ordens monásticas. O emblemático edifício é finalmente devolvido à população, estando prevista a reinstalação de uma comunidade religiosa, que irá gerir uma pequena hospedaria e um restaurante, instalado no antigo hospício.

Espaço monumental belíssimo, fundado em finais do século XI, assume-se, durante os séculos XVII e XVIII, como importante centro produtor e difusor de culturas e estéticas, transformando-se num dos maiores e mais importantes conjuntos monásticos beneditinos e num lugar de excepção do pensamento e arte portugueses.

Acessos:

AUTO-ESTRADA A3 (Valença / Porto)
- Saída no nó Martim;
- Após as portagens, terão acesso à estrada nacional Braga-Barcelos (nacional 103);
- Virar à direita, no sentido de Barcelos cerca de 2 Km até uns semáforos reguladores de velocidade junto de uma igreja que se situa do lado direito da estrada;
- Virar à direita, no entroncamento tem as seguintes indicações: Mosteiro de Tibães, Pousa, Graça e Feital. Seguir nesta estrada (nacional 205-4) +/- 7 Km até uma rotunda, em Mire de Tibães.
- Na rotunda virar à direita e seguir sempre em frente +/ - 700 metros, chegando então ao terreiro do mosteiro.

sábado, 5 de setembro de 2009

Ponte da Misarela (Montalegre / Vieira do Minho)





No Barroso, muitas são as lendas passadas de geração em geração, mas a mais notória de todas será a da Ponte da Misarela, em que, como em tantos outros casos acontece, o protagonista é o diabo. O próprio, em pessoa. Ligando as freguesias de Ruivães (Vieira do Minho) a Ferral (Montalegre), o cenário do episódio é a velha Ponte da Misarela, sobre o Rabagão, cujas margens penhascosas surgem belas a uns e horríveis a outros, conforme a imaginação e o estado de espírito. Conta, a lenda que, sabe-se lá quando, um desgraçado criminoso, tentando escapar-se ao longo braço da justiça, acabou por ver-se encurralado, em desespero, nos penhascos sobranceiros ao rio Rabagão. É natural e comum que, em tão adversas circunstâncias, se apele à intervenção divina, mas, talvez porque fosse excessivo o peso dos pecados na consciência, o foragido optou por convocar o diabo, que está sempre atento a estes lances para deles sacar proveito. Assim, foi instantânea a aparição do mafarrico, que não esteve com meias medidas na chantagem do costume: "Salvo-te, pois claro, se me deres a alma em troca". E que importância tem a alma, quando é o corpinho que está com problemas?
Aceitou o celerado a oferta e, logo ali, com o poder que se lhe reconhece, o diabo, enquanto esfregava um olho, fez aparecer uma ponte ligando as margens do rio. Sem olhar para trás, o perseguido atravessou para a outra margem, após o que, sujeito de palavra, o demónio fez desaparecer a ponte, assim travando a perseguição das autoridades.
Retomou o maligno às suas infernais instalações com a alma do desgraçado, mas o assunto não se ficava por ali. Salvo o corpo mas perdida a alma, viria o criminoso arrepender-se da permuta, pelo que decidiu procurar um frade - conhecido na região por viver em estado de santidade - e contar-lhe o sucedido. "Pecado, meu filho, terrível pecado!", conjecturou, supõe-se, o santo homem, passando, de pronto, ao conselho prático: "Vais outra vez ao lugar junto ao rio e voltas a chamar o Diabo, tomando a pedir-lhe ajuda para a travessia. E deixa o resto comigo".
Assim foi feito. O desalmado chama, o cornudo aparece e, com assinalável espírito de colaboração e não menos louvável desinteresse - a'alma do outro já lá cantava -, satisfaz o pedido: a ponte salvadora reaparece. O homem começa a atravessá-la, mas, quando ia a meio, aparece na outra extremidade o frade magano, que rapa da água benta e asperge com largos gestos. Fica benzida a ponte, que permanece no sítio, esfuma-se o mafarrico e o penitente recupera a alma perdida. Consumava-se a vitória do Bem sobre o Mal, mas ficava, ainda, mais que contar.

Acrescenta a lenda que, radicado nas populações circunvizinhas o carácter sagrado da Ponte da Misarela, passou a ser hábito que, quando uma mulher não levava os filhos a cabo - ou seja, quando algo ia mal na gravidez -, se dirigisse à Ponte e debaixo dela pernoitasse, na expectativa de ajuda celeste para o seu problema. Na sequência da operação, estava estabelecido que a primeira pessoa que atravessasse a Ponte no dia seguinte teria que ser padrinho ou madrinha da criança, à qual seria posto o nome de Gervásio, se rapaz viesse ao mundo, ou de Senhorinha, se de rapariga se tratasse. E isto para que, por obra e graça do pré-baptismo, a mulher tivesse um bom sucesso na sua gravidez.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Frecha da Mizarela (Arouca)







Localizada a 920 metros de altitude, a aldeia da Mizarela está limitada a sul e sudoeste por uma falésia, e pelo vale do rio Caima, a sudeste, que neste local se torna subitamente profundo, originando uma brusca queda de nível, dando origem à chamada Frecha da Mizarela.

Situada na serra da Freita, a queda de água no rio Caima, com cerca de 60 m de altura, é uma das mais altas de Portugal e da Europa, graças a uma das maiores fracturas geológicas existentes na Península Ibérica. É um monumento natural excepcional que pode ser apreciado a partir de diversos miradouros ou do próprio leito do rio junto à freguesia de Albergaria da Serra. Há, ainda, diversos trilhos pedestres bem assinalados que permitem descer ao vale, à base da queda, junto à povoação da Ribeira. Para os amantes dos desportos de aventura, as suas escarpas são um óptimo local de escalada, servindo, muitas vezes, para a respectiva iniciação e como preparação para provas mais arrojadas.

A Serra da Freita faz parte do Maciço de Gralheira, juntamente com a Serra da Arada (1057 m.) e do Arestal (830 m.), ultrapassando alguns dos seus cumes os 1000 m. de altitude. Alberga espécies faunísticas e florísticas raras, algumas mesmo em vias de extinção. O coberto vegetal predominantemente constituído pela urze e pela carqueja, e nas zonas de encosta, por pinheiros, carvalhos, medronheiros e azevinho, protege o lobo ibérico, o javali, a águia de asa redonda, o gato-bravo, entre outros. Para além do rio Caima, nascem nela múltiplos ribeiros de águas cristalinas que, vencendo abismos e serpenteando montes, vão engrossar os caudais do Paiva e do Arda.

Acessos: Para quem vem de Lisboa ou do Porto, recomendo a entrada na Serra da Freita por S. João da Madeira (EN 227) ou por Vale de Cambra (EN 224), em direcção à povoação de Chão de Ave, surgindo imediatamente placas indicativas.