segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Rio de Onor (Bragança)



Rio de Onor fica num vale luxuriante, com soutos verdejantes, recoberto de culturas hortícolas, em contraste óbvio com a aridez dos grandes planaltos circundantes, onde predominam os matos pobres abrangendo uma área considerável, in­cluída no perímetro do Parque Natural de Montesinho e protegida pelas imponentes Serras de Montesinho (a poente), Sanábria (a norte) e Guadramil (a nascente).

As habitações perfilam-se ao longo de duas ruas paralelas, de cada um dos lados do rio de Onor. Com as suas típicas casas de xisto, de pare­des escuras, sem reboco e de aparelho mi­údo, as aldeias desta freguesia preservam um carácter arcaico e rústico, “casando” perfeitamente com a belíssima paisagem natural. Rio de Onor é um caso emblemá­tico, reforçado pela sua posição fronteiriça, com a homónima espanhola – Rihonor de Castilla – ali à distância de uns passos, separada apenas pelo rio (que não chega a ser obstáculo, pois é vencido por esplên­dida ponte medieval de alvenaria e múlti­plos arcos). A do lado espanhol chama-se Rihonor de Arriba ou Rihonor de Castilla, a do lado português Rionor de Abajo ou, oficialmente, Rio de Onor. Os habitantes chamam-lhe simplesmente al lugar, quando se exprimem no seu dialecto próprio - uma das muitas características ímpares da aldeia. O Rionorês é um dialecto muito antigo, baseado na velha língua leonesa, hoje fortemente influenciado pelas línguas ibéricas modernas e não muito diferente do guadramilês, praticamente esquecido, que era falado na aldeia vizinha.


Apesar dos documentos mais antigos que referem Rio de Onor datarem do tempo de Afonso III, presume-se a sua origem muito mais antiga, anterior à fundação da nacionalidade, tendo a aldeia sido cortada em duas quando se definiram fronteiras na região. A estreita relação existente entre os dois núcleos da aldeia - impensável no caso de povoações separadas, para mais pertencentes a reinos distintos e rivais - parece confirmar esta tese. Houve em Trás-os-Montes outras aldeias cortadas pela linha divisória dos dois países, mas apenas Rio de Onor chegou, assim, aos nossos dias. As tradições comunitárias ainda se conservam vivas, sob a forma da posse colectiva de alguns bens - os campos, os moinhos, os rebanhos - e pelo modo de administração rural, levada a cabo por dois mordomos, designados pelo conselho, assembleia que reúne representantes de todas as famílias, os vizinhos. Outrora os mordomos eram eleitos, mas actualmente existe um esquema de rotação cíclica, de modo a que todos possam exercer as funções. De salientar que a organização social da aldeia portuguesa se conservou mais ao jeito tradicional do que a da sua gémea castelhana.