quarta-feira, 23 de junho de 2010

Bugiadas (20 a 24 de Junho) - Sobrado (Valongo)

 

No próximo dia 24 de Junho, dia de S. João, a freguesia de Sobrado vai encher-se de cor e alegria para assistir a mais uma representação da secular luta entre Bugios e Mourisqueiros.
A Bugiada constitui a recordação e actualização de um acontecimento passado há muitos anos. Foi quando os mouros, que haviam invadido a Península Ibérica, ocupavam a Serra de Cuca Macuca (hoje designada Santa Justa), sobranceira a Valongo e de onde se avista boa parte da freguesia de Sobrado. Nesse tempo, a filha do rei mouro (Reimoeiro) adoeceu gravemente e os médicos da corte não eram capazes de descobrir remédio para o mal de que padecia. Em desespero de causa, alguém se lembrou de sugerir o recurso  aos cristãos, que se orgulhavam de possuir uma imagem milagrosa de S. João, que já havia feito maravilhas aquando de uma doença que afectara precisamente a filha do rei cristão. Este e os seus foram, assim, convidados para um jantar, a fim de se acordar o empréstimo da imagem. O receio de que o pretexto fosse aproveitado para a roubar terá levado os cristãos a não aceitar o pedido. A posse da  imagem ,considerada milagrosa, é o mote para a “guerra” que opõe os dois exércitos. Os bugios, mascarados, empenachados e foliões são temporariamente vencidos pelos adversários, jovens aprumados, de barretina espelhada na cabeça, mas acabam por vencer a contenda, recorrendo a uma enorme e tenebrosa Serpe. Nos interstícios das danças e das lutas, ocorrem diversos rituais e facécias (lavra da praça, dança do sapateiro e sketches de crítica social). A narrativa que o acto festivo evoca corre de boca em boca e de geração em geração, já que não há documentos escritos. A festa atrai à localidade muitos milhares de pessoas das redondezas e mesmo de longe, merecendo especial menção os laços que a ela mantiveram e mantêm os muitos sobradenses emigrantes, primeiro os ‘brasileiros’ e ‘venezuelanos’ e, desde os anos 60, os ‘franceses’, ‘alemães’ e ‘luxemburgueses’.


Parte do texto é da autoria de Manuel Pinto, Universidade do Minho.

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