quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Couto Misto (Mixto)



O Couto Misto é um território de 2.698 hectares com a forma de um rectângulo irregular que se situa numa parte da bacia do rio Salas, na provincia de Ourense, Galiza, fazendo fronteira a sul com o distrito de Montalegre. A fronteira entre Trás-os-montes e a Galiza foi sendo ajustada ao longo dos séculos. O primeiro grande acordo fronteiriço com os espanhóis foi o tratado de Alcanizes assinado por D.Dinis. Mas, desde então mantiveram-se algumas dúvidas sobre pequenos áreas e aldeias cuja a situação era menos clara.
O Couto Misto de Rubiás foi território independente que, durante vários séculos, gozou de isenções várias e privilégios. Um juiz com poderes administrativos, governativos e judiciais era eleito e auxiliado por três homens-bons, representando cada uma das três aldeias que constituem o país: Rubiás, Meaus e Santiago. Estes, tomavam as resoluções em plenários abertos à participação de todos os vizinhos.

Entre os variados privilégios que possuia o território, destacava-se: os seus habitantes não tinham a obrigação de ter outra nacionalidade, embora excepcionalmente pudessem optar pela espanhola ou portuguesa assinalando nas portas das suas habitações tal opção ou com a letra “G” de Galiza ou “P” de Portugal; os jovens não cumpriam serviço militar, não eram alistados nos exércitos nem de Portugal nem da Espanha; os habitantes do Couto não precisavam de licença para usar armas de qualquer espécie; nos seus terrenos podia cultivar-se toda e qualquer espécie de plantas, incluindo-se o tabaco. O comércio mais abundante era o do sal, sobretudo antes da activação das salinas da península, lãs (panas) e linhos, medicamentos, ferrarias, tabacos antes da sua importação dos Estados Unidos e da Catalunha, gados, cereais, alfaias, etc. A língua falada era o galego e no adro da Igreja de Santiago faziam-se as reuniões magnas dos povos mistos.
Até que, em 1864, pelo “Tratado de Lisboa”, o estado português e o estado espanhol acordaram numa divisão fronteiriça mais científica, mais apoiada em mapas, a mesma que persiste até hoje, dando-se a extinção do Couto. Foi determinado que as aldeias poderiam optar entre pertencerem ora a um ou outro país, e assim Soutelinho, Cambedo e Lamadarcos, chamadas de promíscuas (com população galega e portuguesa), decidiram-se por fazerem parte do nosso país, enquanto Rubiás, Santiago e Meaus, por Espanha. Estes três povos do concelho de Chaves situados junto a linha fronteiriça serviram de moeda de troca e passaram integralmente para Portugal. Eclesiasticamente, o Couto Misto esteve sempre dependente da diocese de Ourense.
Actualmente, a prosperidade do Couto é apenas uma recordação e as aldeias do lado de cá e do lado de lá da fronteira padecem do mesmo mal: a desertificação.

7 comentários:

  1. Assunto até agora completamente desconhecido para mim.
    Interessantíssimo e muito bem contado por si, para além de incluir a entrevista televisiva.

    Um abraço grato.

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  2. Vi uma reportagem no canal 1 no início de Janeiro sobre este assunto, sobre o qual nunca tinha sequer ouvido falar.
    A reportagem está excelente e é bastante didáctica, chama-se "Galegos de Cá e Lá"... aconselho-a vivamente!

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  3. Es lo que tienen las tierras fronterizas.
    De todos y de nadie.

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  4. Já tinha ouvido falar, mas agora fiquei, "bien" esclarecida :-)

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  5. Ainda não tinha ouvido falar do Couto Misto.
    Obrigado pela explicação, muito interessante :)

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  6. Sem dúvida foi uma boa época, livres, independentes, sem pagar impostos, je, je....um sonho hoje em dia
    Saludos desde Galicia.

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  7. DYlAN: desconhecia!
    No entanto, é bom lembrarmo-nos que entre Portugal e a Galiza há traços de identidademuito antigos! A Língua falada no nosso território, até ter uma identidade própria no tempo posterior a D. Dinis, era, como o Dylan sabe, o GALAICO-PORTUGUÊS...
    Beijos e sempre "muito obrigada" por estes lindíssimos postais ilustrados!
    Beijo de
    LUSIBERO

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